O mundo das imagens é povoado por sentimentos dizíveis e indizíveis. Representar a vida através da arte cinematográfica é gerar sentido, diálogo, pertencimento e compreensão. Imbuídos deste espírito, nós da comissão de pré-seleção de obras da 45ª Edição do Festival Guarnicê de Cinema, honramos, com muito prazer, a missão que nos foi atribuída: “maratonear” as 1.094 obras audiovisuais inscritas no festival.
Desde o mês de junho, nossa equipe de curadores assistiu e debateu, exaustivamente, toda essa produção oriunda das mais distintas regiões do país, resultado do trabalho tanto de experientes cineastas quanto de diretores e roteiristas de primeira viagem; novos realizadores, fruto destes tempos pós-pandêmicos, de ações emergenciais destinadas ao setor cultural, com destaque para a Lei Aldir Blanc, e da vontade de celebrar e reinventar a sétima arte.
Certos de que os festivais de cinema são como sementeiras para essa nova geração de realizadores e uma grande janela de exibição para toda essa seara de obras finalizadas que enfrentam inúmeros desafios como, por exemplo, o gargalo da distribuição, o crescimento exponencial das plataformas de streaming e a crise do parque exibidor nacional, buscamos contemplar obras que, para além das qualidades técnicas e estéticas, refletissem a diversidade social, política e cultural da produção cinematográfica realizada neste momento ímpar que o Maranhão, o Brasil e o mundo passam.
Por cerca de dois meses nos debruçamos sobre a difícil tarefa de escolher os filmes que iriam compor as mostras competitivas e não competitivas. Durante o processo de visionamento das obras, fizemos um “movimento” em direção ao diverso. Na tentativa de apresentar ao público um programa capaz de dar conta da pluralidade do panorama de produções nacionais contemporâneas, permanecemos atentos aos diversos eixos narrativos, aos múltiplos formatos e aos diferentes discursos.
Assim, selecionamos obras de grande potência narrativa e artística. São filmes que promovem o diálogo acerca dos marcadores de gênero, raça e sexualidade. Ao longo do processo, contemplamos filmes que trazem em cena corpos não hegemônicos e linguagens marginalizadas. São obras que estampam nas telas a diversidade cultural, religiosa e econômica de um país dividido por tensões políticas. Obras audiovisuais que trazem a representatividade no DNA, seja na frente das câmeras ou atrás delas. Contam histórias periféricas, à margem das histórias tidas como oficiais. Discutem questões sociais importantes como a precarização do trabalho, a acessibilidade, conflitos sociais e os mais diferentes tipos de violências vivenciados diariamente pela população brasileira. São mulheres, negros, povos originários, pessoas com deficiência e toda a comunidade LGBTQIA+, representados ora em um viés mais afetivo, ora em um viés de denúncia, mas sempre em uma perspectiva combativa urgente.
Na seleção das mostras nacionais priorizamos filmes representantes dos mais diversos estados da federação, com especial atenção para aqueles mais próximos do MA, como por exemplo, CE, RN, ES, BA, e AC. Assim como nas mostras maranhenses, tivemos um olhar cuidadoso para os realizadores fora do eixo da Grande São Luís. As obras selecionadas são todas obras do seu tempo, que refletem temas latentes, passando pelos mais diversos gêneros e formatos e que prometem entreter, divertir, informar e intrigar os mais diversos públicos.
Certos de que o cinema, e o país como um todo, atravessam um momento desafiador, seguimos firmes e convidamos o público para celebrar conosco, mais uma vez, esta que é uma grande festa do cinema do Maranhão e do Brasil, que completa nesta edição 45 anos de existência – e resistência.
Assinam a carta:
Stella Lindoso (Coordenadora da Comissão de Pré-seleção);
Camila de Moraes;
Erly Vieira Jr;
Isa Albuquerque;
Manoel Leite;
Marcus Túlio;
Rafaela Gonçalves.