Hábito dos antigos fazendeiros do sertão era convidar os mais afastados cantadores para uma disputa poética, o desafio. Usava-se a quadra como gênero mais comum. Com o tempo abandonou-se a quadra e multiplicaram-se os gêneros em mais de uma dezena. Cantavam acima do tom em que as violas eram afinadas. Consciente de seu valor em uma sociedade em que a profissão poética dava “status” social, o cantador é tanto mais aceito quanto mais se mantém fiel às formas tradicionais do canto e do improviso. Não será nunca um inovador dessas formas, assim como não transgredirá os valores éticos tradicionais dessa sociedade. Por isso a sua arte só sobrevive na medida em que se adapta ao meio social do qual é uma expressão. Na fazenda três Irmãos, Caruarú, Pernambuco, Lourival Batista e Severeino Pinto, dois cantadores de profissão, encontram-se para um desafio. Este filme documenta alguns momentos da Cantoria: as formas apresentadas são: Sextilha, Dez pés a quadrão, Mourão, Martelo e Gemedeira.rão, martelo, gemedeira e mourão voltado.
Embora filmado 20 anos antes, Viramundo poderia ser considerado uma continuidade de A Terra Queima. Se lá, no Viramundo, o tema é o nordestino na cidade grande, aqui são as razões que levam o retirante a abandonar o sertão. A Terra Queima termina onde Viramundo começa. E se atentarmos para o fato que Viramundo, por sua vez, termina com o retorno do nordestino ao sertão, veremos que os dois filmes compõem um círculo, um circuito. Onde se encontram aprisionadas as massas deserdadas tangidas de um lado para o outro no vasto território do país. Filmado quando se completavam quatro anos sucessivos de seca no sertão, A Terra Queima é um documento social, na tradição do documentário carregado dos sentimentos de indignação e revolta. Como valor histórico registra as mobilizações dos camponesas inspiradas pela Teologia da Libertação no sertão nordestino.
Inspirado em texto de entrevista concedida por João Guimarães Rosa e Gunter Lorenz, em Genova, 1965, na qual, entre credo e poética, entre homem e escritor expõe sua identidade, o documentário busca reconstruir seu conceito de sertão. Com a participação do mestre santeiro Noza do Ceará, do cantador Severino Pinto, da Paraíba, do "coronel" Chico Heráclio, de Pernambuco, de uma canção de vaqueiros e de palmeiras buritis de Minas Gerais, busca-se confirmar que o sertão é também uma maneira de pensar e viver, terreno de eternidade e solidão, espaço de criação, e por isso o carregamos dentro de nós.
Este curta-metragem documenta manifestações da cultura popular no Nordeste brasileiro, como o mamulengo, ou teatro de bonecos, e o bumba meu boi de Mestre Paizinho, em Bayeux, na Paraíba. Com sua representação mística e cômico-dramática sobre a morte e a ressurreição do boi, o bumba meu boi desenvolve uma crítica social original dos trabalhadores dos engenhos e fazendas do sertão, tornando-se expressão singular da cultura brasileira.
Em 1965, Waldo Vieira, médium espírita que trabalhava próximo a Chico Xavier, psicografa o romance Cristo Espera por Ti, supostamente ditado pelo espírito do escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850). Muitos anos depois, o livro cai nas mãos do psicólogo Osmar Ramos Filho, que lhe dedica vários anos de estudos. A partir dessa pesquisa, Osmar levanta uma interpretação original do romance A Pele de Onagro (La Peau de Chagrin). Em meio ao depoimento, o filme encena A Pele de Onagro em forma de cinema mudo. É o retrato de um Fausto moderno, o artista que se confronta com o suicídio na medida em que se convence que a realização da obra de arte o leva à morte. A arte mata o artista, um tema caro a Balzac.
"Em fins do século passado, Delmiro Gouveia, rico comerciante e exportador do Recife, capital do Estado de Pernambuco, Brasil, sofre perseguições políticas. Seu estilo arrojado e aventureiro lança contra ele muitos inimigo, inclusive o Governador do Estado que manda incendiar o grande mercado Derby, recém - construído por Delmiro Gouveia. Falido e perseguido pela polícia do Governador, Delmiro refugia-se no sertão, sob a proteção do Coronel Ulisses, levando consigo uma enteada do Governador. No sertão, ele recomeça sua atividade de exportador de couros e monta uma fábrica de linhas de costura, aproveitando a energia elétrica de uma usina que constrói na cachoeira de Paulo Afonso e o algodão herbáceo nativo da região. A Grande Guerra de 1914, impedindo a chegada dos produtos ingleses à América do Sul, garante a Delmiro a conquista desse mercado, sobretudo brasileiro. Os ingleses da Machine Cottons, ex-senhores absolutos do mercado, enviam emissários para negociar a situação assim criada. Delmiro nega-se a vender ou associar-se. É assassinado em 10 de outubro de 1917. Alguns anos mais tarde, 1929, a fábrica é adquirida pelos ingleses, destruída e lançada nas águas da Cahoeira Paulo Afonso." (Extraído de Press-release)
Nasci rico e estou pobre: mas vivo independente do governo e de todo mundo com um pequeno capital, que pude acumular pelo meu trabalho – vivo no meio da classe mais distinta – e sempre lembrando-me de Colônia e de Caracas. Assim tem início o filme e as memórias do General Abreu e Lima que, no final da vida, em sua cidade natal, relembra uma vida aventurosa, intensamente vivida, em meio a momentos trágicos, triunfos militares e derrotas politicas
Viramundo foi pioneiro ao trazer nova imagem da classe operária brasileira, a do camponês de origem nordestina corrido da seca e da fome, e do surgimento de um sistema religioso neopentecostal, hoje hegemônico no Brasil. No filme, constrói-se de forma circular, do desembarque ao retorno a partir da estação de trem, o circuito da migração de trabalhadores do Nordeste para São Paulo, replicando o vaivém constante dos tangidos de um lado para outro no território nacional. Este site reúne documentação sobre o processo de criação de Viramundo e sua participação e premiação em mostras e festivais no Brasil e em outros países, como o Grande Prêmio concedido ao filme em 1966, na Semana Internacional do Filme 16 mm, em Évian, França, pelo júri presidido pelo cineasta holandês Joris Ivens.
Filme sobre o oásis do Vale do Cariri, no sertão do Ceará, Viva Cariri! transfigura o realismo ao criar um mosaico da região, sobretudo de Juazeiro do Norte, centro religioso e de cultura popular marcado pela devoção em padre Cícero Romão Baptista (1844-1934). Ao som de um cantador que recita os versos do clássico cordel Viagem a São Saruê, de Manuel Camilo dos Santos, o filme documenta aspectos místicos, culturais e econômicos do Cariri, como a devoção popular em Padre Cícero, a sobrevivência precária do artesanato e o malogrado processo de industrialização da região. Viva Cariri! venceu o Prêmio Città di Venezia, concedido pelo Comitê Internacional do Filme Etnográfico e Sociológico e entregue por Jean Rouch no Festival de Veneza, em 1972.
Antão é ferido, preso e morto quando bando de jagunços de Jesuíno invade cidade de Sertânia. O filme projeta a mente febril e delirante de Antão, que rememora os acontecimentos.